Continuando o post sobre as oficinas de encerramento do projeto "Psicologia e arteterapia: quebrando tabus e construindo caminhos", hoje vamos compartilhar com vocês a oficina sobre Higiene, um dos temas-base do projeto.
A atividade foi proposta/realizada pela colaboradora Fernanda Albuquerque e agentes comunitários de saúde da UBS do bairro Cavaco, onde atuamos.
A oficina sobre higiene teve três momentos: primeiro, foram distribuídos pedaços retangulares de folhas de ofício, em branco. Solicitamos que os alunos anotassem a parte de seu corpo que mais gostam e que colassem o papel (que já foi entregue com a fita dupla face) em seu corpo. Foi pedido para que ficassem em pé, um de cada vez, e falassem como se fossem a parte do corpo que haviam escolhido: como gostam de ser cuidadas, quais os cuidados devem ser tomados, como deve ser higienizada, etc. O objetivo desta primeira parte foi propiciar uma discussão a respeito do cuidado com a higiene nas partes consideradas mais importantes por eles, não excluindo a ênfase dada às necessidades de higiene do corpo como um todo.
Num segundo momento, foi distribuído entre os alunos um texto de Rubem Alves (logo abaixo, gente!) para que fizessem uma analogia entre o meio em que vivemos e a higiene.
"A idéia desta estória não é minha. Meu é só o jeito de contar...
Sobre uma águia que foi criada num galinheiro.
E foi aprendendo sobre o jeito galináceo de ser, pensar, de ciscar a terra, de comer milho, de dormir em poleiros...
E na medida em que aprendia, ia esquecendo as poucas lembranças que lhe restavam do passado. É sempre assim: todo aprendizado exige um esquecimento...e ela desaprendeu:
O cume das montanhas, os vôos nas nuvens, a vista se perdendo no horizonte, o delicioso sentimento de dignidade e liberdade...
Como não havia ninguém que lhe falasse destas coisas, e todas as galinhas cacarejavam os mesmos catecismos, ela acabou por acreditar que ela não passava de uma galinha com perturbação hormonal, tudo grande demais,aquele bico curvo, sinal certo de acromegalia, e desejava muito que o seu cocô tivesse o mesmo cheiro certo de cocô das galinhas...
Um dia apareceu por lá um homem que vivera nas montanhas e vira o vôo orgulhoso das águias.
“Que é que você faz aqui?,” ele perguntou.
“Este é o meu lugar”, ela respondeu.”Todo mundo sabe que galinhas vivem em galinheiros, comem milho, ciscam o chão, botam ovos e finalmente viram canja:nada se perde, utilidade total...”
“Mas você não é galinha.” Ele disse. É uma águia.
“De jeito nenhum. Águia voa alto. Eu nem sequer voar sei. Pra dizer a verdade, nem quero. A altura me dá vertigens. É mais seguro ir andando, passo a passo...”
E não houve argumento que mudasse a cabeça da águia esquecida.
Até o homem, não agüentando mais ver aquela coisa triste, uma águia transformada em galinha, agarrou a águia à força, e a levou até o alto de uma montanha.
A pobre águia começou a cacarejar de terror, mas o homem não teve compaixão; jogou-a no vazio do abismo. Foi então que o pavor, misturado à memórias que ainda moravam em seu corpo, fez as asas baterem, a princípio em pânico, mas pouco a pouco com tranqüila dignidade, até abrirem confiantes, reconhecendo aquele espaço imenso que lhe fora roubado. E ela finalmente compreendeu que o seu nome não era galinha, mas águia..." (Rubem Alves)
Objetivo do texto na oficina: Dialogar sobre as implicações de determinados hábitos que temos, assim como demonstrar que a sucessiva freqüência de ação no meio, sem reflexão crítica, pode nos levar ao esquecimento dos nossos verdadeiros papéis sociais frente a preservação de nossa saúde e do meio em que vivemos.
"A idéia desta estória não é minha. Meu é só o jeito de contar...
Sobre uma águia que foi criada num galinheiro.
E foi aprendendo sobre o jeito galináceo de ser, pensar, de ciscar a terra, de comer milho, de dormir em poleiros...
E na medida em que aprendia, ia esquecendo as poucas lembranças que lhe restavam do passado. É sempre assim: todo aprendizado exige um esquecimento...e ela desaprendeu:
O cume das montanhas, os vôos nas nuvens, a vista se perdendo no horizonte, o delicioso sentimento de dignidade e liberdade...
Como não havia ninguém que lhe falasse destas coisas, e todas as galinhas cacarejavam os mesmos catecismos, ela acabou por acreditar que ela não passava de uma galinha com perturbação hormonal, tudo grande demais,aquele bico curvo, sinal certo de acromegalia, e desejava muito que o seu cocô tivesse o mesmo cheiro certo de cocô das galinhas...
Um dia apareceu por lá um homem que vivera nas montanhas e vira o vôo orgulhoso das águias.
“Que é que você faz aqui?,” ele perguntou.
“Este é o meu lugar”, ela respondeu.”Todo mundo sabe que galinhas vivem em galinheiros, comem milho, ciscam o chão, botam ovos e finalmente viram canja:nada se perde, utilidade total...”
“Mas você não é galinha.” Ele disse. É uma águia.
“De jeito nenhum. Águia voa alto. Eu nem sequer voar sei. Pra dizer a verdade, nem quero. A altura me dá vertigens. É mais seguro ir andando, passo a passo...”
E não houve argumento que mudasse a cabeça da águia esquecida.
Até o homem, não agüentando mais ver aquela coisa triste, uma águia transformada em galinha, agarrou a águia à força, e a levou até o alto de uma montanha.
A pobre águia começou a cacarejar de terror, mas o homem não teve compaixão; jogou-a no vazio do abismo. Foi então que o pavor, misturado à memórias que ainda moravam em seu corpo, fez as asas baterem, a princípio em pânico, mas pouco a pouco com tranqüila dignidade, até abrirem confiantes, reconhecendo aquele espaço imenso que lhe fora roubado. E ela finalmente compreendeu que o seu nome não era galinha, mas águia..." (Rubem Alves)
Objetivo do texto na oficina: Dialogar sobre as implicações de determinados hábitos que temos, assim como demonstrar que a sucessiva freqüência de ação no meio, sem reflexão crítica, pode nos levar ao esquecimento dos nossos verdadeiros papéis sociais frente a preservação de nossa saúde e do meio em que vivemos.
A terceira parte, e finalização do trabalho, foi dada com pontuações dos agentes de saúde sobre o trabalho que desenvolvem na comunidade, fazendo uma correlação das várias doenças adquiridas por falta de higiene.
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